segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Caio Fernando Abreu.

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Porque eu tô ainda muito inseguro de mim mesmo, e não acreditando
absolutamente que alguém possa me curtir bem assim como eu sou. Eu não tenho
quase experiência dessas transações, me enrolo todo, faço tudo errado — acabo me
sentindo confuso. Tudo isso é tão íntimo, e eu já estou tão desacostumado de me
contar inteiramente a alguém, tão desacreditando na capacidade de compreensão
do outro, sei lá, não é nada disso, sabe? Conviver é difícil — as pessoas são dificeis
— viver é dificil paca.

(foda!)

Caio Fernando Abreu.

Te procuro em outro corpo, juro que um dia te encontro

Não temos culpa. Tentei. Tentamos.

Caio Fernando Abreu.

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Que te dizer? Que te amo, que te esperarei um dia numa rodoviária, num aeroporto, que te acredito, que consegues mexer dentro-dentro de mim?

Caio Fernando Abreu.

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E a gente esquece sabendo que está esquecendo.

Caio Fernando Abreu.

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E então eu disse que sim, que estava disposto, que eu teceria.
Que eu teço.

Caio Fernando Abreu.

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Toda a minha saudade, e o meu amor de sempre.

Caio Fernando Abreu.

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Preciso de alguém, e é tão urgente o que digo. Perdoem excessivas, obscenas carências, pieguices, subjetivismos, mas preciso tanto e tanto. Perdoem a bandeira desfraldada, mas é assim que as coisas são-estão dentro-fora de mim: secas. Tão só nesta hora tardia - eu, patético detrito pós-moderno com resquícios de Werther e farrapos de versos de Jim Morrison, Abaporu heavy-metal -, só sei falar dessas ausências que ressecam as palmas das mãos de carícias não dadas.

Caio Fernando Abreu.

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A gente procura um amor que dure o mais possível. Procura, procura, talvez tu ache. Para mim é horrível eu aceitar o fato de que eu tô em disponibilidade afetiva. Esse espaço entre dois encontros pode esmagar completamente uma pessoa. Por isso eu acho que a gente se engana, às vezes. Aparece uma pessoa qualquer e então tu vai e inventa uma coisa que na realidade não é. E tu vai vivendo aquilo, porque não agüenta o fato de estar sozinho.

Caio Fernando Abreu.

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Me preocupo com todos, me vem uma vontade louca de "salvá-los". Salvá-los de quê? Tirar-lhes essas personalidade que vestem, feito roupa, e dar-lhes o que em troca? Ah, essa vontade idiota de fazer os outros antes sequer de ter feito a mim próprio. Vontade que não leva a nada, não traz nada, a não ser, mais uma vez, a vontade lenta de chorar. Chorar porque tudo é errado, porque as pessoas não querem ver dentro de si mesmas, e eu não posso fazer nada por elas, e provavelmente nem por mim mesmo.

sábado, 29 de agosto de 2009

Caio Fernando Abreu.

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Minha vida era feita de peças soltas como as de um quebra-cabeça sem molde final. Ao acaso, eu dispunha peças. Algumas chegavam a formar quase uma história, que interrompia-se bruscamente para continuar ou não em mais três ou quatro peças ligadas a outras que nada tinham a ver com aquelas primeiras. Outras restavam solitárias, sem conexão com nada em volta. À medida que o tempo passava, eu fugia, jamais um ano na mesma cidade, eu viajava para não manter laços − afetivos, gordurosos −, para não voltar nunca, e sempre acabava voltando para cidades que já não eram as mesmas, para pessoas de vidas lineares, ordenadas, em cujo traçado definido não haveria mais lugar para mim.

Caio Fernando Abreu.

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Tento me concentrar numa daquelas sensações antigas como alegria ou fé ou esperança. Mas só fico aqui parado, sem sentir nada, sem pedir nada, sem querer nada.

Caio Fernando Abreu.

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Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais -por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia –qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido. Eu prefiro viver a ilusão do quase, quando estou "quase" certa que desistindo naquele momento vou levar comigo uma coisa bonita. Quando eu "quase" tenho certeza que insistir naquilo vai me fazer sofrer, que insistir em algo ou alguém pode não terminar da melhor maneira, que pode não ser do jeito que eu queria que fosse, eu jogo tudo pro alto, sem arrependimentos futuros! Eu prefiro viver com a incerteza de poder ter dado certo, que com a certeza de ter acabado em dor. Talvez loucura, medo, eu diria covardia, loucura quem sabe!

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

não.

- Você é diferente.
- Nossa, que grande observação! - você gargalhava alto.
- Não, eu não tô falando dessa diferença explícita. Aliás, essa outra diferença também é explícita, mas não, não tô falando disso que você acha que eu tô falando.
- Eu acho é que você bebeu demais! - não parava de rir.
- Olha, eu não bebi quase nada, eu bebia muito mais que isso, você é que não sabe daquela época em que eu só bebia e não fazia mais nada, quer dizer, você é diferente sim...
- É só me contar que deixo de ser diferente então. - debochado.
- Não tô falando disso! Tô falando desse jeito de sorrir aí ó, tão leve, tão envolvente. Tô falando é de...
- De...? - seus olhinhos brilhavam e seu sorriso era outro agora.
- Disso! Desse olhar de quem quer descobrir o mundo quantas vezes forem necessárias. Desse peito aberto, sem medo. Desse sorrisinho tímido e tão sexy! E dessas bochechas que ainda ficam rosadas, meu Deus, eu não imaginei que você ficasse tão bonitinho assim corado!
Eu te mordi.
- Ah, você é que é diferente, sabia?!
- Sabia sim. Mas também sou tão comum, tão igual, tão clichê, tão...
- Tão linda. E, olha, também fica coradinha!
O som da tua risada era tão mas tão bom!
- Para com isso, vai. Tá aí brincando e eu tô falando de coisa séria. Você é diferente de um jeito lindo, cara. Seus olhos dizem tanto... E dizem coisas tão doces. E você tem mãos que querem pegar tudo o que estiver ao alcance delas... E essa teimosia charmosa! Esse jeito de não se importar com os outros, aliás, acho que no seu mundo não existem "os outros", existem?
- Existe você.
Seus lábios se aproximaram. Desviei.
- Vem, eu te levo pra casa. - me levantou da mesa e me abraçou.
Sussurrou:
- O diferente só é bonito visto de longe.

Caio Fernando Abreu.

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'Ah, mas tudo bem. Em seguida todo mundo se acostuma. As pessoas esquecem umas das outra com tanta facilidade. Como é mesmo que minha mãe dizia? Quem não é visto não é lembrado. Longe dos olhos, longe do coração. Pois é.'

Caio Fernando Abreu.

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'Pois aqui nesta janela, além dela, passa boi, passa boiada, passa cascata, matagal, vilarejo e tudo mais que compõe a paisagem das coisas viventes, embora passe também cemitério e fome. Coisas belas, coisas feias: o bom é que passam, passam, passam. Deixa passar.'

Caio Fernando Abreu.

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'Não me venha com meios-termos, com mais ou menos ou qualquer coisa. Venha à mim com corpo, alma, vísceras, tripas e falta de ar...'

Caio Fernando Abreu.

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'Quando fecho os olhos, é você quem eu vejo; aos lados, em cima, embaixo, por fora e por dentro de mim. Dilacerando felicidades de mentira, desconstruindo tudo o que planejei, abrindo todas as janelas para um mundo deserto. É você quem sorri, morde o lábio, fala grosso, conta histórias, me tira do sério, faz ares de palhaço, pinta segredos, ilumina o corredor por onde passo todos os dias.'



invariavelmente vo-cê.

Caio Fernando Abreu.

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'Eles desejam coisas que não existem. Eles não conhecem a paixão, nem tu. A tudo isso eu chamo tontura, não prazer. Evita a vertigem. Resseca, desbasta, o limite é a nudez do osso. Além dele, se avançares, há somente poeira. Mas cuidado, exigem-se os dentes fortes que Nanã perdeu. Descobre, desvenda. Há sempre mais por trás. Que não te baste nunca uma aparência do real.'

A Cabana - de William P. Young

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'Cada relacionamento entre duas pessoas é absolutamente único. Por isso você não pode amar duas pessoas da mesma maneira. Simplesmente não é possível. Você ama cada pessoa de modo diferente por ela ser quem ela é e pela especificidade do que ela recebe de você. E quanto mais vocês se conhecem, mais ricas são as cores desse relacionamento.'


(fantastique *_*)

Parti-das.

Todas as vezes que nos abraçávamos para nos despedir, eu chorava. Lembra? Afundava meu rosto nos seus ombros, sentia o cheiro do seu pescoço, e chorava... Porque eu sempre imaginava que aquela seria a última vez, que não mais nos veríamos, que eu precisava guardar seu cheiro, o toque da sua pele...
E eu me enganava. Passavam-se alguns dias e estávamos nos abraçando novamente. Um abraço largo! Um frescor na barriga, uma risada solta... Era engano meu: mais uma vez estávamos ali, juntos, apertados um contra o outro. Aproveitando algumas horas que não eram contadas.
Quando chegava o momento da despedida, ah, como era doloroso! Mais uma vez aquela sensação: era a última vez. O último abraço. Guardar o cheiro, o toque, o som da voz... As lágrimas rolavam, rolavam... E você dizia "não chora, semana que vem eu volto". Eu não acreditava. E você me surpreendia (sempre surpreendia) e voltava, voltava sim.

Sabe o que me parece mais irônico, mais triste, o que me parece um tanto maldoso?
Aquele abraço na rodoviária... Eu não pensei que seria o último.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

domingo é dia dos pais!

Meu pai me cansa. Não podemos ficar perto algumas horas, que já começamos com aquela mania insuportável. Aquela que a psicóloga disse que veio de um primeiro problema não resolvido entre nós. Aquela assim:

- Paula (só ele me chama assim e, claro, eu NÃO gosto), você foi ao dentista?
- Ainda não.
- Mas você é difícil demais... por que não? (ficando irritado)
- Porque eu tô gripada e meu corpo tá doendo ué.
- Assim não dá! (xingando)
- (oi? eu não sou criança e decido o que faço na hora que EU quiser) Aham, mas meu corpo tá doendo e eu não vou pegar ônibus.

Ele fecha a cara, resmunga com aquela voz grosseira e me deixa falando sozinha.
Olha que isso é um avanço! Geralmente acontece assim: um provoca, outro retruca. Outro provoca, um retruca.
E assim vai indo, indo, indo...
Até terminar do jeito que terminou dessa vez: eu morrendo de ódio, com vontade de esfregar na cara dele que eu CRESCI e sou dona do meu nariz, dos meus dentes doloridos e das minhas pernas que só querem saber de repousar. E ele enchendo a porra do saco achando que manda até no meu fio de cabelo loiro.
Ah vá!

Martin Page

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▬ Por que a gente não teria o direito de criticar, de achar certas pessoas babacas e fracas, sob pretexto de que teríamos um clima pesado e ciumento? Todo o mundo se comporta como se fôssemos todos iguais, como se fôssemos todos ricos, educados, poderosos, brancos, jovens, belos, machos, felizes, como se todos estivéssemos com boa saúde, como se todos tivéssemos um carrão... Mas isso, obviamente, não é verdade. Por isso, tenho o direito de gritar, de estar de mau humor, de não sorrir idiotamente todo o tempo, de dar a minha opinião quando vejo coisas não-normais e injustas, e até de insultar as pessoas. Tenho o direito de protestar.
▬ Estou de acordo, mas... isso é fatigante. Podemos fazer isso de um jeito melhor, não?
▬ Você tem razão - concedeu Clémence. - É idiota gastarmos toda a nossa energia com coisas com as quais não vale a pena gastá-la. Mais vale guardarmos as nossas forças para nos divertir.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

dando um tempo.

das frustrações,
das mágoas,
dos amores,
das risadas,
das lágrimas,
das saudades.
de você, dela, de mim, deles.
de tudo.

re-construindo.



"Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar, para atravessar o rio da vida - ninguém, exceto tu, só tu.
Existem, por certo, atalhos sem números, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio; mas isso te custaria a tua própria pessoa; tu te hipotecarias e te perderias.
Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar.
Onde leva? Não perguntes, segue-o!"
(Friedrich Nietzsche)