domingo, 24 de janeiro de 2010

pretérito imperfeito.

Eu estou proibida de falar sobre você. Ninguém aguenta mais a mesma história, a mesma lamentação, o mesmo arrependimento, "será que um dia tem volta?" ou "o que eu poderia fazer pra ele vir pra mim?".
As pessoas começaram a dizer que você não existe. "São só lembranças de algo que não existe mais".
Ok. Demorou, mas eu comecei a concordar em partes...
Não dá pra reconstruir o nosso castelo de príncipe e princesa. É impossível esperar que você ainda me veja como a mulher mais linda do mundo. É ilusório acreditar que posso te ver como o homem que sempre esperei.
Mas nada impede que, em vez do castelo, tenhamos um apartamento pequeno e com poucos móveis no centro da cidade, impede?
Nada impede que você seja o Homem-Imperfeito certo pra Mulher-Imperfeita certa, não é mesmo?
E que a gente vá mobiliando o apartamento com móveis novos, com quadros aguardando fotos dos dias lindos que estão por vir, com lençóis que ainda não têm o nosso cheiro...
Talvez não possamos mais recomeçar, devo admitir.
Mas não existe impecilho pra começar um novo caminho. Existe?

pain

Há mais de uma semana não durmo direito. 5, 4, 3, 2 horas de sono... E começa outro dia.
Que é tão vazio quanto o anterior.
E que termina com uma dor no peito intensa antes de 'dormir'.
Dor física. Que piora quando respiro, então eu prendo a respiração por alguns segundos. Fico... sem... ar. E sem pensar. Sem sentir.
Então inspiro e... dói. Dói fundo o peito, coloco a mão em cima como se apertar melhorasse alguma coisa. Os pensamentos voltam, a vontade de colocar um ponto final nesse caminho sem sentido. As lágrimas que eu queria soltar e que não existem.
Hora de prender a respiração por mais alguns segundos.

17:17

Quando eu fico assim, queria ter vontade de falar com alguém.
A melhor amiga, sabe? Ou a minha irmã. Minha mãe, sei lá. A psicóloga. O rolo amoroso da vez. O rolo amoroso de sempre. Com a Capitu. Com Deus.
Mas eu não tenho vontade de falar nada, com ninguém.
Fica essa coisa sufocada tentando sair do meu peito, sinto que ele fica apertadinho. Algo lá dói como se fosse uma cólica, e é físico mesmo. A cabeça fica confusa, mil pensamentos, uma parte de mim querendo uma coisa, a outra parte xingando a primeira, a terceira se envolvendo pra sentir auto-piedade.
E não dá pra fugir, não dá pra esvaziar nem um pouquinho.
O aperto é todo meu, a dor é exclusivamente minha. Egoísta até pra sofrer.

Até quando vou suportar?
Aqueles pensamentos não me deixam. Não é que eu vá fazer isso agora. É que eu poderia muito bem fazer... sem problema algum.

cacos.

Eu estava conversando com ele ainda há pouco. Eu falava com toda a vivacidez e vontade, me agachando, pegando os pedaços do nosso relacionamento, tentando juntar todos os pedacinhos pra colar de volta enquanto ele me perguntava se eu não cansava, passando por cima dos pedaços que ainda estavam no chão fazendo-os ficar ainda menores, difíceis de pegar ou colar. Mas ainda com aquela vontade, com aquela fantasia, com aquele sonho, eu não desistia. Continuava me agachando, tentando colar, imaginando como seria depois de tudo colado, pedindo pra ele ao menos parar de andar em cima dos caquinhos, perguntando se ele não sabia como seria bom quando tudo estivesse consertado... Não tem conserto, ele me dizia.
Então ele foi embora. Prometeu que ia tentar pensar no assunto. Fiquei de joelhos, nos cacos, chorando e colando. Quando quase tudo estava consertado, me dei conta de que faltavam pedaços. Provavelmente estavam na sola dos sapatos dele. Agora tenho que esperar...
Esperar pra ver se ele vai voltar. Esperar pra ver se ele virá com o mesmo par de sapatos. Esperar. Torcer pra que ele não perceba que está com os cacos que eu tanto preciso, pois sempre há a possibilidade de ele joga-los fora. Fantasiar sua chegada com os pedaços na mão, dizendo "Conserta, eu quero ficar". Esperar. Torcer. Fantasiar.

as minhas.

A minha Alice ama e quer dizer tchau.
A minha Amy gosta do que dizem que é errado.
A minha Bridget quer emagrecer.
A minha Satine quer viver em Paris ou em qualquer lugar, contanto que seja com ele ao seu lado.
A minha Claire quer ser impulsiva e espontânea.
A minha Lisa quer destruir paredes e morder pessoas de raiva e loucura misturadas.
A minha Lolita quer uma boca bem vermelha.
A minha Frances quer ir morar na Itália e comer uvas.
A minha Sammy quer liberdade.
A minha Clementine quer esquecer e não ser esquecida.
A minha Amèlie quer um amor pra sempre, de verdade... com gosto de morango.
A minha Juno quer um tempo pra esperar aquilo que se quer.
A minha Holly quer usar chapéus imensos e tomar chá em Londres.
A minha Lovett quer poder fingir que fatos sérios são fatos simples.
A minha Mafalda quer poder ouvir música sem defeito.
A minha Wendy quer ficar criança pra sempre.
A minha Marilyn quer provocar.
A minha Chieko quer ser amada por suas diferenças.
A minha Maria Elena quer não ser deixada nunca. Mas
A minha Ashling talvez queira.
A minha Bree quer fazer as melhores tortas do mundo.
A minha Ofélia quer não cair em loucura.
A minha Isabelle quer cinema e sexo.
A minha Lisbela quer cinema e amor.
A minha Sam quer gritar do topo do mundo e fazer os insensíveis sentirem.
A minha Abigail quer acreditar.
A minha Dorothy quer voltar para casa.
A minha Tracy quer enlouquecer.
A minha Daisy quer dançar e dançar e dançar.
A minha Lucy quer diamantes no céu.

Charles Bukowski

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O amor é uma espécie de preconceito. A gente ama o que precisa, ama o que faz sentir bem, ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece.

Caio Fernando Abreu

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Só tenho passado, o presente é esta viscosidade e o futuro não existe. Ah, eu queria ter um objetivo na vida, uma coisa que sugasse todas as minhas forças, conduzisse todos os meus gestos e as minhas palavras. Não tenho nada, só este vazio. Tão grande que, frequentemente, duvido até dele próprio...

Caio Fernando Abreu

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Me pergunto sempre se você não teceu em volta de mim uma porção de coisas irreais — se você não estará projetando em mim qualquer coisa como um príncipe encantado — esperando a minha volta como quem espera a salvação.

Caio Fernando Abreu

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Como é triste lembrar do bonito que algo ou alguém foram quando esse bonito começa a se deteriorar irremediavelmente...

Caio Fernando Abreu

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Por que ela se perdia assim e assim se assumia e se cumpria em pedra, dona de si mesma, dispensando qualquer afeto, qualquer comunicação?

Clarice Lispector

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O pré-amor, que é tão mais feliz que amor.

Caio Fernando Abreu

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Inconscientemente, parecia querer buscar em autores, filmes e músicas, algum tipo de consolo. Como se alguém precisasse chegar bem perto do sofá, onde estava, colocar um das mãos em seu ombro e dizer que aquilo era normal. Que acontecia também com outras pessoas. E que iria passar.


E que iria passar.

Caio Fernando Abreu

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Há uma porção de coisas minhas que você não sabe, e que precisaria saber para compreender todas as vezes que fugi de você e voltei e tornei a fugir. São coisas difíceis de serem contadas, mais difíceis talvez de serem compreendidas — se um dia a gente se encontrar de novo, em amor, eu direi delas, caso contrário não será preciso.

Caio Fernando Abreu

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Acho que meu mal sou eu mesmo, esses círculos concêntricos envolvendo o centro do que devo ser. Mas só poderei me aproximar dos outros depois que começar a desvendar a mim mesmo. Antes de estender os braços, preciso saber o que há dentro desses braços, porque não quero dar somente o vazio. Também não quero me buscar nos outros, me amoldar ao que eles pensam, e no fim não saber distinguir o pensar deles do meu.