sábado, 20 de fevereiro de 2010

Caio Fernando Abreu

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Ele a olhou. Ela, louca de amor por ele, não o reconheceu. Ele havia deixado de ser ele: tranformara-se no símbolo sem face nem corpo da paixão e da loucura dela. Não era mais ele: ela amava alguém que não existia mais, objetivamente. Existia apenas dentro dela.

Caio Fernando Abreu

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A memória tem sempre essa tendência otimista de filtrar as lembranças más para deixar só o verde, o vivo. Antigamente, sempre era melhor, ainda que não fosse. Talvez porque já esteja, lá, tudo solucionado e a gente possa se ver, no tempo, como quem vê uma personagem num livro ou filme: aconteça o que acontecer, há um fim definido, predeterminado. Essa espécie de improvisação do agora, do que está sendo moldado, causa muito mais angústia. Não temos, como no samba, a menor idéia de como será o amanhã.

Caio Fernando Abreu

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Tinha desejos violentos, pequenas gulas, urgências perigosas, enternecimentos melados, ódios virulentos, tesões insaciáveis. Ouvia canções lamentosas, bebia para despertar fantasmas distraídos, relia ou escrevia cartas apaixonadas, transbordantes de rosas e abismos. Exausto então, afogava-se num sono por vezes sem sonhos.

Caio Fernando Abreu

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Ela dorme segura protegida no ombro dele que a protege seguro. Mesmo dormindo, mesmo do lado de cá. E isso é para sempre, por mais que o tempo passe e a afaste cada vez mais dele, que continua eterno naquele segundo em que o viu. E isso ninguém roubará.

Caio Fernando Abreu

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Era uma menina. Embora não quisesse, quase desvairada na negação indireta, recusando atitudes e palavras que, justamente por afastadas, sublinhavam a sua condição. (...) Ah, como recusam sua densidade; como supunham ultrapassá-la quando, na verdade, sequer chegavam a sua periferia.

Caio Fernando Abreu

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Uma vez me disseram que eu jamais amaria dum jeito que "desse certo"... Pode ser. Pequenas magias.

Fernanda Mello

Quero sempre o vôo mais alto, a vista mais bonita, o beijo mais doce. Tenho um coração que quase me engole, uma força que nunca me deixa e uma rebeldia que às vezes me cega. Tenho um jeito de viver selvagem, mas sou mansa com quem merecer. Não gosto de café morno, de conversa mole, nem de noite sem estrela. Sou bem mais feliz que triste, mas às vezes fico distante. E me perco em mim como se não houvesse começo nem fim nessa coisa de pensar e achar explicação pra vida. Explicação mesmo, eu sei: não há. E me agarro no meu sentir porque, no fundo, só meu coração sabe. E esse mesmo coração que me guia e não quer grades nem cobranças, às vezes me deixa sem rumo, com uma interrogação bem no meio da frase: O que eu quero mesmo?
Por isso, eu te peço (de um jeito meio sem-vergonha, que é assim que eu costumo ser): se eu gostar de você, tenha a gentileza de não me deixar tão solta. Não me pergunte aonde vou, mas me peça pra voltar. Sou fácil de ler, mas não tente descobrir porque o mesmo refrão insiste em tocar tanto. Se eu gostar de você, tenha a delicadeza de também gostar de mim. E me deixe ser, assim, exatamente como eu sou. Meio gato, meio gente. Desconfiada. E independente. E adoradora de todos os luxos e lixos do mundo. Quer me prender? Nem tente. Quer me adorar? A escolha é sua, meu amigo, vá em frente!

Fernanda Mello

Durmo com você na cabeça.
Mando uma mensagem com gosto de Domingo.
Você me responde.
Meu coração pára.
Agradeço à tecnologia.
Ter saudade agora ficou mais fácil.
E mais bonito.
Depois que conheci você,
Meu pensamento viaja.
E me distrai de coisas cotidianas, que antes pareciam ter graça.
Esqueço minhas futilidades emocionais.
Esqueço até mesmo que hoje é sexta feira e vai ter uma festa no céu.
Será que você pensa em mim agora?

Não importa. Queria mesmo um beijo seu.

Ana. diz:
'tem mulher que não entende... eu não quero te comer, mas quero as outras, capiche?'
como alguém pode amar isso?


Tão bom desencantar antes de re-encantar.
Obrigada, Pedro. (L)

Tudo Acontece em Elizabethtown

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I'm impossible to forget, but I'm hard to remember.

domingo, 24 de janeiro de 2010

pretérito imperfeito.

Eu estou proibida de falar sobre você. Ninguém aguenta mais a mesma história, a mesma lamentação, o mesmo arrependimento, "será que um dia tem volta?" ou "o que eu poderia fazer pra ele vir pra mim?".
As pessoas começaram a dizer que você não existe. "São só lembranças de algo que não existe mais".
Ok. Demorou, mas eu comecei a concordar em partes...
Não dá pra reconstruir o nosso castelo de príncipe e princesa. É impossível esperar que você ainda me veja como a mulher mais linda do mundo. É ilusório acreditar que posso te ver como o homem que sempre esperei.
Mas nada impede que, em vez do castelo, tenhamos um apartamento pequeno e com poucos móveis no centro da cidade, impede?
Nada impede que você seja o Homem-Imperfeito certo pra Mulher-Imperfeita certa, não é mesmo?
E que a gente vá mobiliando o apartamento com móveis novos, com quadros aguardando fotos dos dias lindos que estão por vir, com lençóis que ainda não têm o nosso cheiro...
Talvez não possamos mais recomeçar, devo admitir.
Mas não existe impecilho pra começar um novo caminho. Existe?

pain

Há mais de uma semana não durmo direito. 5, 4, 3, 2 horas de sono... E começa outro dia.
Que é tão vazio quanto o anterior.
E que termina com uma dor no peito intensa antes de 'dormir'.
Dor física. Que piora quando respiro, então eu prendo a respiração por alguns segundos. Fico... sem... ar. E sem pensar. Sem sentir.
Então inspiro e... dói. Dói fundo o peito, coloco a mão em cima como se apertar melhorasse alguma coisa. Os pensamentos voltam, a vontade de colocar um ponto final nesse caminho sem sentido. As lágrimas que eu queria soltar e que não existem.
Hora de prender a respiração por mais alguns segundos.

17:17

Quando eu fico assim, queria ter vontade de falar com alguém.
A melhor amiga, sabe? Ou a minha irmã. Minha mãe, sei lá. A psicóloga. O rolo amoroso da vez. O rolo amoroso de sempre. Com a Capitu. Com Deus.
Mas eu não tenho vontade de falar nada, com ninguém.
Fica essa coisa sufocada tentando sair do meu peito, sinto que ele fica apertadinho. Algo lá dói como se fosse uma cólica, e é físico mesmo. A cabeça fica confusa, mil pensamentos, uma parte de mim querendo uma coisa, a outra parte xingando a primeira, a terceira se envolvendo pra sentir auto-piedade.
E não dá pra fugir, não dá pra esvaziar nem um pouquinho.
O aperto é todo meu, a dor é exclusivamente minha. Egoísta até pra sofrer.

Até quando vou suportar?
Aqueles pensamentos não me deixam. Não é que eu vá fazer isso agora. É que eu poderia muito bem fazer... sem problema algum.

cacos.

Eu estava conversando com ele ainda há pouco. Eu falava com toda a vivacidez e vontade, me agachando, pegando os pedaços do nosso relacionamento, tentando juntar todos os pedacinhos pra colar de volta enquanto ele me perguntava se eu não cansava, passando por cima dos pedaços que ainda estavam no chão fazendo-os ficar ainda menores, difíceis de pegar ou colar. Mas ainda com aquela vontade, com aquela fantasia, com aquele sonho, eu não desistia. Continuava me agachando, tentando colar, imaginando como seria depois de tudo colado, pedindo pra ele ao menos parar de andar em cima dos caquinhos, perguntando se ele não sabia como seria bom quando tudo estivesse consertado... Não tem conserto, ele me dizia.
Então ele foi embora. Prometeu que ia tentar pensar no assunto. Fiquei de joelhos, nos cacos, chorando e colando. Quando quase tudo estava consertado, me dei conta de que faltavam pedaços. Provavelmente estavam na sola dos sapatos dele. Agora tenho que esperar...
Esperar pra ver se ele vai voltar. Esperar pra ver se ele virá com o mesmo par de sapatos. Esperar. Torcer pra que ele não perceba que está com os cacos que eu tanto preciso, pois sempre há a possibilidade de ele joga-los fora. Fantasiar sua chegada com os pedaços na mão, dizendo "Conserta, eu quero ficar". Esperar. Torcer. Fantasiar.

as minhas.

A minha Alice ama e quer dizer tchau.
A minha Amy gosta do que dizem que é errado.
A minha Bridget quer emagrecer.
A minha Satine quer viver em Paris ou em qualquer lugar, contanto que seja com ele ao seu lado.
A minha Claire quer ser impulsiva e espontânea.
A minha Lisa quer destruir paredes e morder pessoas de raiva e loucura misturadas.
A minha Lolita quer uma boca bem vermelha.
A minha Frances quer ir morar na Itália e comer uvas.
A minha Sammy quer liberdade.
A minha Clementine quer esquecer e não ser esquecida.
A minha Amèlie quer um amor pra sempre, de verdade... com gosto de morango.
A minha Juno quer um tempo pra esperar aquilo que se quer.
A minha Holly quer usar chapéus imensos e tomar chá em Londres.
A minha Lovett quer poder fingir que fatos sérios são fatos simples.
A minha Mafalda quer poder ouvir música sem defeito.
A minha Wendy quer ficar criança pra sempre.
A minha Marilyn quer provocar.
A minha Chieko quer ser amada por suas diferenças.
A minha Maria Elena quer não ser deixada nunca. Mas
A minha Ashling talvez queira.
A minha Bree quer fazer as melhores tortas do mundo.
A minha Ofélia quer não cair em loucura.
A minha Isabelle quer cinema e sexo.
A minha Lisbela quer cinema e amor.
A minha Sam quer gritar do topo do mundo e fazer os insensíveis sentirem.
A minha Abigail quer acreditar.
A minha Dorothy quer voltar para casa.
A minha Tracy quer enlouquecer.
A minha Daisy quer dançar e dançar e dançar.
A minha Lucy quer diamantes no céu.

Charles Bukowski

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O amor é uma espécie de preconceito. A gente ama o que precisa, ama o que faz sentir bem, ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece.

Caio Fernando Abreu

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Só tenho passado, o presente é esta viscosidade e o futuro não existe. Ah, eu queria ter um objetivo na vida, uma coisa que sugasse todas as minhas forças, conduzisse todos os meus gestos e as minhas palavras. Não tenho nada, só este vazio. Tão grande que, frequentemente, duvido até dele próprio...

Caio Fernando Abreu

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Me pergunto sempre se você não teceu em volta de mim uma porção de coisas irreais — se você não estará projetando em mim qualquer coisa como um príncipe encantado — esperando a minha volta como quem espera a salvação.

Caio Fernando Abreu

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Como é triste lembrar do bonito que algo ou alguém foram quando esse bonito começa a se deteriorar irremediavelmente...

Caio Fernando Abreu

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Por que ela se perdia assim e assim se assumia e se cumpria em pedra, dona de si mesma, dispensando qualquer afeto, qualquer comunicação?