segunda-feira, 27 de abril de 2009

and you're my night sky.

- Vamos ficar pelo menos um pouquinho, senão vai parecer desfeita pro primo dele.
O Fael sempre pensava na parte que eu não conseguia: o que as pessoas achariam.
- Tá, só um pouco.
Quando cheguei na mesa e eles me cumprimentaram, entendi que já sabiam quem eu era. E entendi que você me trataria ainda mais estranho.
Vocês conversavam alguma coisa que eu não prestei atenção, e o Fael e eu olhávamos o cardápio.
- Caipivodka? - eu precisava beber mais.
Fael concordou. Ele começou a entrar no seu assunto e eu ali, boba, com uma vontade imensa de sair correndo e apagar aquele dia da minha memória. Ou melhor, apagar tudo que te incluísse da minha memória. Sorria, fazia uma carinha agradável, afinal seus primos já deviam ter uma imagem ruim o suficiente de mim pra que eu chegasse ali e ainda fizesse a minha cara blasé habitual.
As caipivodkas chegaram e daqui pra frente me desculpo, mas não poderei contar muitos detalhes. É que a memória e a vodca não ajudam.
Tentei entrar no assunto, mas meus palpites não passavam de "é!" e uma risadinha, ou só um sinal com a cabeça. Não me sentia a vontade. Seu olhar me fazia ter vontade de desaparecer.
- Amanhã vou cedo pra BH e posso dar uma carona pra vocês. - seu primo ofereceu e tivemos que negar.
Você fez aquela cara de raivinha que eu conhecia bem.
- Não posso, minha mãe não deixa.
- Pedro, posso falar uma coisa?
Eu já sabia que seria algo sobre mim.
- Muito prazer, tá?
Eu ri. De nervosismo, de achar graça também.
- Ah, o prazer é todo meu.
Então ele disse algumas coisas que agora me parecem confusas (não sei se porque ele disse meio bêbado ou eu ouvi meio bêbada). Mas acho que era algo sobre eu nunca ter saído com vocês.
- Minha mãe não deixa mesmo, e meu pai é chato. Só vim aqui hoje porque ele tá viajando.
Ele disse que entendia e começou a contar a história do namoro dele. Admito: senti uma invejinha branca. Me dirigi à você:
- Meu pai não podia confiar em você. Você nunca foi conversar com ele.
- Não podia confiar em mim? - você fez aquela cara de mais bravo ainda.
Acho que eu já tava bem solta por causa da vodca, e isso era perigoso. Principalmente com você me tratando daquele jeito.
- Quero chorar. - toda hora sussurrava isso pro Fael e ele, no maior carinho do mundo, segurava minha barra.
- Não chora, não chora.
Não chorei. Não foi fácil. Aliás, você fazia tudo ficar mais difícil do que já era. Seu jeito de me olhar, de falar comigo ou sobre mim... tudo me confundia e me deixava chateada. Com a impressão de que eu definitivamente não devia estar ali.
Fui ao banheiro e o Fael foi atrás. Acho que ele tava com medo que eu passasse mal ou chorasse, não sei. A verdade é que eu queria ficar escondida em qualquer lugar onde você não estivesse. Quando saí, o Fael me esperava na porta. Acho que perguntou se estava tudo bem. Eu disse que queria ir embora, que tava chateada, que queria chorar. Ficamos conversando bons minutos, e fui percebendo que eu não queria ir embora: só queria te abraçar. Depois de tudo que passamos, acho que não era pedir muito, era?
Voltamos pra mesa, e você falou:
- Demoraram, hein!
- Estávamos conversando. - a sinceridade que a vodca me dá é incrível.
- Mais uma? - o Fael ofereceu.
- Tá. Se eu não conseguir beber tudo, você fica com o resto.
E bebemos. Fiquei ainda mais solta. Acho que seu primo já não tava com tanta raiva de mim. Me ajudou a beber o resto da caipivodka porque era visível que eu não ficaria bem depois de um copo tão cheio quanto aquele. Ah, em algum ponto que eu não me lembro chegou um outro primo seu. Esse me lembrava você, e eu gostei do jeito dele rir.
Como tínhamos que ir embora, você saiu pra pegar o carro do seu primo e nos levar até a rodoviária. Quando você não estava, o assunto melhorou (ou piorou?) um pouco.
- Pode ter certeza que o Pedro gostou dessa atitude de você vir aqui. - seu primo falava com o Fael, não comigo.
- E por que ele não fala comigo? - perguntei.
- Você é outra história. - acho que ele tomou suas dores. Com razão.
- Eu vim até aqui e ele tem que falar comigo. - mandona, teimosa, como sempre.
- Por que você não avisou que viria?
- Porque ele ia fugir de mim, como sempre.
- Se ele foge, para de ir atrás.
Doeu. O Fael falou alguma coisa pra me defender enquanto eu engolia aquilo.
- Ele tem coisas pra conversar comigo, do contrário não fugiria de mim. Somos adultos e temos que conversar direito sobre o que aconteceu. Não vim até aqui por nada. - maldita vodca que me deixava ainda mais folgada do que já sou.
Acho que ele entendeu. Começou a falar umas coisas sobre você, mas te vi chegando. E avisei pra ele, né.
Você chegou diferente, com o olhar mais doce. Você é maluco e me deixa maluca também.
- Fica até amanhã. - falou enquanto eu descia aquele degrau que pareceu mil vezes maior.
- Não posso, sério.
Vi sua cara de chato de novo. Mas nem liguei dessa vez. Não importava o que acontecesse, afinal eu estava preparada pra (quase) tudo: ia conversar com você sim. Bendita vodca.
Quando me despedi do seu primo e ele me abraçou, disse que queria conversar mais comigo, que ia pegar meu msn, que ia me ajudar. Não sei se foi papo de bêbado, mas na hora fez diferença pra mim.
Entramos no carro e você nos levou pra casa dos seus pais. Acho que até hoje você não entendeu que eu sou tímida! E eu estava bêbada, só podia dar errado.
O olhar surpreso dos seus pais e da sua irmã foi engraçado. Sua vó é muito fofa. Acho que fez diferença eu ter ido lá, você ficou mais doce, foi sumindo aquela cara de chato.
Enquanto sua mãe preparava café, o Fael te contava o que aconteceu sobre o melhor amigo dele e a namorada. E te lembrou de quando você dizia "eu tô fazendo a minha parte". Eu tava fazendo a minha, e acho que você entendeu.
Tomamos café e você já tava tocando em assuntos de quando namorávamos, ainda que fosse de um jeito meio distante.
Ficamos mais um pouco e depois nos despedimos de todos, que foram super gentis embora eu ache que não gostaram muito daquela situação.
Entramos no carro.
- Então, Ana Paula, pode falar.
- Pedro Henrique, o Fael precisa escutar?
- Ah, achei que não tinha problema.
- E não tem. Mas prefiro conversar só com você.
Fomos falando sobre nem sei o que até chegar na rodoviária. O tempo parecia voar agora.
Chegamos e nos sentamos em um canto lá, enquanto o Fael tentava falar com a namorada mais uma vez. Me sentei um pouco distante de você, acho que senti um pouco de medo.
- Pode falar. - o tom de voz gostoso voltou.
Você me puxou pra mais perto de você. Me abraçou.
- Não sei. Vim planejando tanta coisa e agora não consigo falar nada.
- Ah, alguma coisa você tem pra falar. - você achava graça!
- Eu senti a sua falta.
Não era isso que eu queria falar, não era isso que eu podia. Mas era o que eu precisava. Senti mesmo, muita, durante todo aquele tempo longe.
- Eu também.
Outra coisa que eu não esperava.
Começamos a conversar. É, as palavras vêm, eu não precisava ter planejado nada.
- Vim principalmente pra te pedir desculpa. Sei que fui muito grossa, estúpida, impulsiva...
- Orgulhosa. - talvez esse fosse o defeito que mais te desagradava. - Mas eu também errei muito.
- Errou sim, eu não disse que não. - ri e você ficou sério.
- Desculpa. - fazíamos carinho na mão um do outro.
- Já tá desculpado. Eu só queria vir conversar pessoalmente, acho que passamos muita coisa pra terminar só por telefone ou internet.
- Eu tentei te ver, lembra? Disse que ia lá pra conversarmos pessoalmente, mas você disse que não queria, que não ia me ver.
Eu fui mesmo uma idiota. Praticamente todo o tempo.
- É, eu sei... desculpa.
Você ficou mexendo nas minhas pulseirinhas, e eu me lembrei de quando passamos um dia inteiro andando na Feira Hippie porque eu queria pulseiras daquele jeito.
- Comprei umas pulseiras assim pra você... mas não tão chiques - engraçadinho.
Tirei uma do braço e coloquei em você.
- É pra você guardar.
- Pra usar até te ver de novo?
- É.
- Mas eu posso tirar e colocar quando for te ver.
Fiz cara de brava, e fiquei mesmo.
- Eu não vou fazer isso.
Era tão bom ficar ali abraçada com você, te fazer carinho, sentir seu carinho. Você era o meu Pedro de novo. Eu já estava chorando.
- Você não pode chorar, não lembra?
Chorei ainda mais.
- Toda vez que eu choro, lembro de você.
- Não pode chorar, porque princesas não choram.
Te abracei forte.
- Meu príncipe.
- Eu gosto muito de você.
Me incomodou todas as vezes que você repetiu aquilo.
- Olha pra mim. - puxei seu rosto. Você olhou nos meus olhos e eu vi aquelas cores tão bonitas que se misturavam nos seus. Eles também tinham lágrimas, eu vi.
- Eu te amo. - disse sem pensar muito. Mas acho que é assim mesmo que isso tem que ser dito.
- Eu também te amo.
Isso eu realmente não esperava. Nenhuma das vezes que imaginei a nossa conversa, te vi dizendo isso pra mim. E agora você disse, ali, abraçado comigo, olhando nos meus olhos. Não guardei todo esse amor em vão. E ter ido ali conversar com você valeu a pena, valeu muito a pena.
Te falei do quanto senti sua falta, e você me surpreendeu mais uma vez me falando do quanto sentiu a minha.
- Eu tenho medo de sofrer de novo. - no ponto da conversa em que você disse isso, desabei. Não era o que eu queria ouvir, mas como sempre, você estava sendo sincero.
Te abracei forte e chorava de soluçar. Você dizia pra eu parar de chorar, me fazia carinho, fazia bobeiras pra eu rir. Amo seu jeito de cuidar de mim. Fiz carinho no seu cabelo e fechei os olhos guardando aquele momento.
- Meu menino bobo.
Não conseguia parar de chorar.
- Eu não quero ir embora. - repeti isso tantas vezes.
- Por que?
- Porque vai ser tudo diferente. Não sei quando vou te ver de novo, quando vamos nos falar de novo. Queria ficar aqui, nos seus braços, só isso.
- Eu também queria. - senti amor na sua voz. - Mas não precisa ser tudo diferente.
- Você vai me ver?
- Vou. Sempre que eu for pra BH. Você vai vir aqui de novo. Vamos nos falar.
Por um momento aquilo me acalmou. O Fael veio avisar que tava quase na hora do ônibus chegar, e fomos pra fila comprar as passagens. Na frente dele você não me abraçava. Não foi bom. E eu te puxei pra me abraçar. Fiquei te mordendo, te apertando, matando a saudade de cada pedacinho seu. Eu senti tanta falta! Você disse algo sobre a vontade de ir pra França.
- Não, você não pode ir.
- Você vai comigo.
Tive vontade de ir com você, de não te soltar nunca mais. Você é meu.
- Você é meu, todo meu. - pensei alto demais, acho.
- Só seu.
- Mesmo?
- Mesmo.
O Fael voltou e ficamos conversando. Perto dele você agia de um jeito estranho, mas eu não podia reclamar, era natural. Te mordi forte e você reclamou.
- É pra você lembrar de mim.
- Não precisa me morder pra isso, eu vou lembrar.
O ônibus chegou. Você e o Fael se despediram e eu fiquei ali esperando que você fizesse alguma coisa. Não fez. Te abracei forte, praticamente pulei no seu pescoço. Ficamos assim, abraçados, grudados.
- Me beija.
E depois eu entrei no ônibus sem falarmos mais nada.

A viagem de volta me fez pensar muito, me fez suspirar ainda mais. E desde que cheguei aqui não consigo pensar em outra coisa: você. Na verdade em você sempre pensei. Agora penso em nós. No que há de vir. Sei que não adianta pensar ou planejar nada: você sempre me surpreende. Então vou deixar que aconteça. E vai acontecer, alguma coisa vai acontecer e vai mudar tudo, mas por enquanto eu só quero ficar com a lembrança dos seus abraços e carinhos, e da sua voz dizendo "Eu já te disse que te amo hoje?", ou "Faz GRRRRR pra mim?". Você foi o meu Pedro quando eu mais precisei, e sei que posso esperar por esse Pedro de novo. Quero ficar aqui com as nossas músicas e as minhas saudades, com a lembrança do seu sorriso e da sua mão na minha. Com os suspiros, as vontades, os sonhos, os seus olhos, a sensação do mundo girando enquanto eu estava nos seus braços. Quero ficar com a espera e a lembrança. O resto, que venha. Quando quiser, quando puder, quando tiver que vir.
E que seja doce.

2 comentários:

danilo kato disse...

eu não sou muito de deixar comentários porque eu sinto que mexo em coisas que são só suas... com a minha visão. mas esse post fiquei a fim de comentar.

o tempo dá voltas e as pessoas também. e a gente precisa fazê-los valer a pena. eu acho que você fez, e nesse momento, você foi vencedora.
eu achei a história muito bonita, só isso.
parabéns :)

Anônimo disse...

contos de fadas reais...
mas pra ter final feliz... a gnt tem de ter calma...

xD