domingo, 26 de abril de 2009

mais uma canção.

Mal dormi essa noite de tanta ansiedade. E mesmo assim, quando acordei depressa com o despertador fazendo aquele barulho irritante, ainda não acreditava no que eu ia fazer.
Ia atrás de você. Não ia esperar você mostrar que queria, que eu devia, que isso faria diferença. Eu apenas ia. Sem esperar nada.
Claro que pensei mil coisas durante todo esse tempo em que planejei te ver. E você, como sempre, me surpreendeu.
Me arrumei depressa (o mais depressa que eu pude, juro). Fael veio me buscar na porta de casa.
- Tem certeza?
- Tenho.
Na verdade eu não tinha. Mas você sabe, eu nunca tenho. Só vou e faço.
E fiz.
Não lembro de nada que conversei com o Fael enquanto íamos pra rodoviária. Só consigo lembrar das mil coisas que pensei, dos textos planejados que eu falaria, de não olhar muito nos seus olhos pra não perder o foco, de todas as escapatórias pra todas as reações possíveis que você poderia ter (assim eu imaginava pelo menos).
Pegamos uma van, daquelas que os caras ficam gritando "Ouro Preto, Mariana!" na porta da rodoviária. Acho que tenho cara de quem vai pra Ouro Preto/Mariana, sério, sempre param na minha frente e ficam gritando só esses dois nomes. Um dia te levo pra Ouro Preto/Mariana comigo.
Enfim, a van era péssima. Apertada, abafada. Tanta gente feia e esquisita. O caminho também é péssimo, né. Cheio de curvas. Eu morrendo de medo e o Fael vomitando.
Demorou, mas chegamos. Paramos no lugar errado, pra variar. Achei que estava no meio do nada, em algum lugar esquecido no mundo. Só terra e mato!
Andamos e, depois do meu pé ficar todo sujo, encontramos um ponto com civilização. O Fael ligou pra sua mãe e disse onde estávamos, na esperança de você ir nos encontrar. O que acabou acontecendo foi ela oferecer que seu pai fosse buscar o Fael. Ninguém sabia que eu estava lá, e pelo menos por enquanto, eu não queria que soubessem. Inventamos umas coisas malucas, mas conseguimos fazer com que seu pai não fosse.
Andamos mais. Um ponto de ônibus! Ou pelo menos era isso que parecia. Demorou mais de meia hora, mas um ônibus passou. Pegamos ele mesmo, não sabíamos onde nenhum ia, de qualquer forma. Depois de conversar com o cobrador e uma menina com o sotaque engraçado, descobrimos que foi um bom palpite. Chegamos perto da sua casa.
Fazia calor demais. E eu pensando em ir com roupa de frio! Andamos mais, é, um tanto mais.
- É aqui.
Quando o Fael falou isso e me mostrou a casa com as grades cor-de-rosa, eu fiquei paralisada. A ficha tinha caído. Eu estava mesmo ali, parada na sua rua, com a idéia maluca de aparecer pra conversar com você depois de um ano sem nos vermos.
- E agora?
Perguntei realmente sem ter muita noção do que fazer. Não sabia se voce já tinha chegado em casa, se corria o risco de alguém da sua casa me ver parada ali com aquela cara de tonta e me reconhecer. Só sentia borboletas incansáveis no estômago.
- Vamos sentar aqui e esperar a mãe dele ligar, Fael. Quando ele chegar, ela deve ligar.
Eu não conseguia prender minha atenção em nada, nada. Mas também não conseguia mais criar textos absurdos sobre o que falaria com você. Só sabia que ia falar, e dali mesmo ia embora. Acho mesmo que só queria te ver.
O celular do Fael tocou. Eu fiquei inteira gelada. Ele colocou no auto-falante.
- Fael... onde você tá?
A sua voz tava diferente, grossa. Parecia irritado. Me intimidou um pouco.
- Desce que tô na esquina da sua rua.
Acho que o Fael também tava um pouco intimidado.
- É agora. - ele disse isso e olhou pra mim daquele jeito que passa força, que só ele sabe. - Tá pronta?
- Tô.
Eu não tava.
Nos abraçamos e ele foi em direção à sua casa. Olhava pra trás um pouco nervoso, fazendo gestos de que você não tava vindo. Aí ele fez um "sim" com a cabeça. E eu te vi chegando na esquina.
Minhas mãos estão tão geladas quanto estavam naquela hora.
Olhei pro outro lado. "É ele!"
Olhei pra vocês de novo. Não sei direito o que o Fael disse, mas você começou a vir na minha direção. Você estava vindo na minha direção. Isso ainda faz as borboletas voltarem pra cá.
Quando você chegou perto, tirei o óculos escuro pra te olhar melhor. E não deu pra fugir: fiquei perdida nos seus olhos. Você sorria. Essa é a reação que eu não esperei. Você sorria sinceramente, você teve vontade de me abraçar. E abraçou. Bem apertado, gostoso, macio.
Ficamos lá nos olhando, você se sentou ao meu lado. Eu não conseguia tirar os olhos de você, mesmo quando você olhava pro chão meio sem jeito. Tentava fingir que não estava sem saber o que fazer, mas eu te conheço, você sabe.
- Não mudou muito.
- Não? - você riu.
- Só um pouco. - ri também.- Demorou, mas eu vim.
- É... veio...
Você tava com aquele tom de voz gostoso. O tom que usava comigo no telefone quando dizia coisas bonitas.
As borboletas do meu estômago pareciam ter vindo do Alaska, de tão geladinhas. E você parecia o Pedro, o meu Pedro.
Falamos sobre coisas aleatórias, eu não consegui começar a falar de nós dois e você parecia não se sentir a vontade pra isso. Chamei o Fael, que estava um pouco distante, e ele voltou.
- Já conversaram?
- Já. - eu respondi correndo, não queria que ele falasse nada.
- Já? - ele se assustou.
- Calma, vocês tem o dia todo aqui. Dá pra conversar mais. - você disse algo assim, eu não lembro direito. Só lembro que desisti de ir embora. Por mim eu ficaria ali o dia todo, a semana toda, a vida toda.
- Tem algum lugar pra gente ir? Uma sorveteria? - tava com vontade de tomar sorvete. Meu estômago tava doendo depois de tanto tempo sem comer, pura ansiedade.
- Tem. - e você foi levando a gente pra uma loja atrás de um posto de gasolina, daquelas de conveniência. Não lembro de praticamente nada que falamos no caminho. Só lembro que perto do Fael, você me tratou diferente daquela primeira impressão que me passou. E que você continuava lindo.
Você ficava reclamando da ressaca, contando que tinha bebido todas na cavalgada que foi. Eu ficava te olhando enquanto chupava meu picolé cremoso de chocolate, sem me importar muito se você percebia o quanto eu te olhava. Um amigo me ligou e eu tive vontade de falar pra ele que queria sair correndo dali. Mas não falei.
Você tomando Gatorade pra recuperar a ressaca e eu fazendo o Fael beber comigo pra ficar mais leve.
Ficamos conversando, e eu comecei a te sentir distante. Foi dando vontade demais de ir embora, mas eu sabia que não podia. Não tinha feito nada do que me fez ir até você.
Te pedi pra nos levar em alguma pracinha. Andamos mais um monte, achei a cidade bonitinha. Parecia que eu estava em algum bairro aqui por perto mesmo, me sentia em casa. Chegamos naquele lugar onde tinha uma cascatinha e eu queria tirar mil fotos suas, de cada expressão do seu rosto que depois de tanto tempo voltava a ver. Pra disfarçar, tirei fotos do lugar, do Fael.
Fomos pra outra pracinha onde tinha o coreto. Sentei no meio do banco pra você não ter desculpas de sentar em alguma ponta longe de mim. Fiquei olhando suas pintinhas do rosto, ouvindo seus planos, morrendo de vontade de encostar em você, segurar a sua mão.
Você disse que queria ir pra França e eu fiquei assustada com a possibilidade de te perder de vez.
Ajeitei sua sobrancelha. Foi a forma mais idiota de encostar em você, mas eu precisava te sentir do jeito mais bobo que fosse. Você perdeu um pouco a concentração no que falava e o Fael deu uma risadinha.
Comecei a beber mais e mais rápido. O tempo tava passando e se continuasse daquele jeito eu ia embora chorando sem ter falado nada. Você parecia tão frio.
- Eu quero ir no banheiro. - comecei com a minha encheção de sempre.
- Naquele lugar da cascata tem banheiro.
Acho que seu primo te ligou, não lembro, não prestei muita atenção. Você se afastou e eu falei pro Fael que queria ir embora. Ele foi muito atencioso comigo durante todo o tempo; não sei o que teria feito se ele não estivesse ali.
Você chamou a gente pra ir pra um bar encontrar com seu primo. Fiquei teimando que não ia porque tava com vergonha, e você fez aquela cara de chato que só você sabe fazer.
Pensei "Já tô aqui mesmo e isso não vai dar em nada, ah, eu vou sim". E fui, né. Chegando lá, você ficou ainda mais estranho comigo, até no jeito de olhar. Fael me ajudou a encontrar o banheiro e você ficou lá com seu primo e um amigo. Já saí do banheiro falando que queria ir embora, e o Fael me dizendo que a gente nem tinha conversado ainda.
- Mas não precisa conversar. Deu pra ver que não precisa. Eu vi o que queria.
Era isso mesmo que eu queria. Ver que você tinha me esquecido, que eu não fazia mais diferença na sua vida. Assim eu conseguiria seguir a minha... livre.


(hoje isso já mexeu muito comigo. amanhã continuo)

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